Extrema-direita não resiste ao populismo por muito tempo


Parte 1
O fenômeno eleitoral Trump/Bolsonaro personificado na extrema-direita em vários países do mundo como Inglaterra, Turquia, Rússia, Estados Unidos e agora o Brasil parecem que começam a amargar o fracasso. Para todos os governantes populistas, sejam líderes carismáticos como Lula ou Trump, a fórmula é a mesma receitada por Maquiavel, é preferível ser temido do que amado.
Porque? O amor se rompe ao sabor do interesse do momento, como pode ascender ou apagar com a mesma facilidade. Entretanto, como dizia Maquiavel, ser temido é bem diferente de ser odiado. Em seu livro, “O Príncipe” havia dois erros cruciais que os governantes não podiam tocar: os bens e as mulheres de seus súditos, uma vez que isso iria gerar ódio, e o ódio diferente do temer é capaz de derrubá-los do poder, ocorrendo quem sabe, mais uma queda da Bastilha.
Prova contemporânea disso ocorre na Hungria onde o povo se rebelou e com razão contra o líder populista Viktor Orbán (leia-se, na qual já foi eleito três vezes) pois foi aprovado a chamada “lei da escravidão” na qual obriga o trabalhador húngaro à trabalhar 400 horas extras por ano, sem adicional, e o crédito ao trabalhador poderá ser pago em até 3 anos.
Nos Estados Unidos as chances de impeachment do governo Donald Trump aumentam, ao atacar duramente as políticas públicas criados pelo seu antecessor, Barack Obama.
No Brasil, o último líder populista, confiando no amor do povo, acabou encarcerado em Curitiba.
Nos primeiros dias de governo Jair Bolsonaro, seu superministro da economia Paulo Guedes, já afirmou que a “legislação trabalhista criada por Vargas, trata-se de uma lei fascista”. Guedes já trabalha em projeto da reforma da previdência muito mais impactante do que a de Temer.
De Lula à Bolsonaro, eles esquecem que o povo com ódio apoia, e com o ódio tira!
Vejamos, mexeu com o bolso e a dignidade do trabalhador, Maquiavel avisava das consequências. A exemplo vejamos as explosões nas ruas de Budapeste e tantas outras cidades.
A extrema-direita começa a sentir o amargar do ódio do povo. E quando isso ocorre, o resultado é fatal. Lembramos rapidamente o caso Dilma, a política fiscal e econômica de Dilma e com os entraves de Eduardo Cunha, a economia degringolou, e o resultado um impeachment tabajara.

Parte 2
O povo húngaro está ocupando as ruas de Budapeste desde 12 de dezembro de 2018, contra a “lei da escravidão”, haja vista que o país sofre com escassez de mão de obra, e para piorar foram aprovadas leis duríssimas contra os imigrantes, estrangeiros e refugiados. Deu aos patrões o direito de exigir 400 horas extras por ano, hoje são de 250, que podem ser pagas, pasmem em até três anos sem nenhuma compensação financeira a mais.
É isso que está vindo para cima de nós no Brasil, a exemplo de Paulo Guedes.
Entretanto, o povo não é o único dono da história. Em vários momentos a história é feita sem sua participação. Vejamos o caso da proclamação da nossa República em 1889, o povo, desinformado, vendo toda a cavalaria na rua acreditavam que era um desfile militar. A proclamação de nossa República, foi uma decisão das elites brasileiras (Exército e oligarquias cafeeiras), comandadas pelo marechal Deodoro da Fonseca, que curiosamente era adepto a monarquia e o monarca Dom Pedro II admirava a República.
Sabemos que a história é escrita pelas elites e plutocracias do poder, enquanto o povo apenas faz papel de figurante. Entretanto, novos tempos surgem, nas democracias formais (burguesas), de qualquer modo, apesar da extrema-direita o povo dá apoio e com o mesmo apoio tira.
Vamos aguardar, torcendo pelo Brasil e denunciando as mazelas inescrupulosas do poder, como descrita por Robert Michels, em 1911.

Parte 3
Quando as elites do poder, sejam setores econômicos, financeiros e políticos são corruptos ou privilegiados, como infelizmente são pelo perverso sistema burguês, eles acabam escrevendo uma história suja, emporcalhada. E quando arbitrários, escrevem uma história violenta. Nos países estruturados sob o domínio das máfias, são elas que escrevem a história com o sem povo.
Afinal quando entra o protagonismo do povo nos países dominados pelas facções do poder personificadas nas elites extrativistas, espoliadoras e exploradoras?
Normalmente em suas vidas incertas, o povo figura com gritos nas redes sociais, para manter viva suas “taras religiosas, ideológicas, culturais, e dos seus ressentimentos” (Luís Felipe Pondé, Folha de São Paulo, 24/12/2018).
Assim ocorreu em junho de 2013, cruzadas contra a corrupção em 2015 e 2016, com os Coletes Amarelos na França em 2018, c com a Primavera Árabe em 2011, com o Occupy Wall Street e a invasão da Puerta del Sol em Madrid no mesmo ano, com a greve dos caminhoneiros em 2018 (contra o aumento do combustível) e por aí vai.
Essas medidas que impactam o “bolso” do trabalhador ou geram a sensação de perda de bem-estar, são faíscas para protestos gigantescos. Tudo depende da ira do povo. Vale ponderar que quando a raiva aumenta, a bomba-relógio vai detonar e quando detona, as elites populistas ou bandidas manipulam essa ira para tirar proveito e destituir governantes ou elege-los ao sabor dos seus interesses.
Na Hungria, Viktor Orbán está experimentando o gostinho amargo da ira do povo que o elegeu por três vezes. Na Venezuela, Maduro está fazendo de tudo para se manter no comando da nação. E na potência imperialista norte-americana, Donald Trump, presidente de primeira viagem já corre o risco do impeachment.
General romano à 2 mil anos, Júlio Cesar dizia “o povo precisa de pão e circo”, se o bolso e o estômago do povo estão saciados, se suas crenças e convicções estão bem, toleram até mesmo a corrupção das elites governantes, vejamos o mensalão no primeiro governo Lula, ou agora ressente o caso “Queiroz” do governo Bolsonaro, até agora sem uma única linha de explicação lógica.

Parte 4
Arbitrariedades daqueles que estão no poder contra minorias ou até ataques contra instituições fundamentais para a democracia como as liberdades de imprensa, geralmente não levam o povo às ruas (normalmente), algo muito estranho. Os privilégios perversos e nefastos daqueles que dominam o país sejam empresas e corporações que compram seu acesso ao poder através de lobby são alvo de revoltas populares, algo no mínimo curioso.
Mas, quando o governante ataca os bens ou as “mulheres” dos seus súditos, “o chicote estrala”.
Algo relevante a ser questionado na gritaria dos húngaros é o seguinte, qual é o limite que o povo suporta em relação aos governos populistas autoritários? Ao que parece, o povo deixa implícito que aceita algumas arbitrariedades, mas não aceita o nazismo, cuja linhas mestras são:
I – a agressão ou limpeza étnica;
II – a destruição da separação dos poderes (tal como foi o AI-5 no Brasil);
III – a crescente restrição dos direitos civis, políticos e sociais;
IV – o fechamento do parlamento;
V – o corporativismo e o estalinismo da economia; e
VI – o assassinato massivo (inclusive por meio de guerra). – (Xavier Vidal-Folch, El País em 23/12/2018).
Orbán iniciou sua limpeza étnica contra ciganos e refugiados da Síria. Depois aprovou a bandeira do antissemitismo “Lei Stop Soros”, e expulsou estrangeiros. Aposentou juízes da Supremo Corte, e agora, criou um sistema jurisdicional paralelo dentro do poder Executivo Húngaro.
Mas com a “lei da escravidão” a bomba estourou. Esta é a lição que fica a líderes populistas, acertem a economia. Povo descontente serve para a criação de governo populistas, vimos isso nos EUA e agora no Brasil, mas o vento pode mudar, e com a mesma facilidade tirá-los do poder.
Aprendamos, diante do povo, nem populista resiste, podem até se julgar deuses intocáveis, mas a revolução popular mostra a onde está o verdadeiro poder. 
Presidente Venceslau, 08 de janeiro de 2019, às 16h e 47 min.

João Pedro da Paz
joaopedrodapaz@outlook.com.br

Nenhum comentário